Presidente da Fiemg defende medidas menos restritivas para indústria e comércio

Flávio Roscoe enviou comunicado em que diz temer até mesmo pelas vidas dos trabalhadores.

O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, se juntou as outros empresários que defendem medidas menos restritivas ao funcionamento de indústria e comércio em função da pandemia do novo coronavírus.

Mesmo com o isolamento já tendo se mostrado eficiente na contenção da COVID-19, o entendimento da entidade é que para a população será bem pior se a economia parar, como temem ocorrer com o atual quadro de quarentena proposto por governadores e prefeitos, responsáveis pelos decretos que regulam o funcionamento de estabelecimentos.

Em áudio enviado aos pares da entidade de classe, ele diz temer até mesmo pelas vidas dos trabalhadores. “Tenho visto nos últimos dias medidas cerceando atividades econômicas, cerceando as indústrias, inclusive sendo apoiadas por setores industriais. Infelizmente, entendo que esta é uma posição equivocada. Começarei a defender agora posição de que temos de voltar à normalidade. População até 50 anos não é atingida pelo vírus. Na China, entre 0 e 10 anos não teve uma criança sequer que foi a óbito. De 10 a 40 anos, o índice é de dois (mortos) para mil. E esses dois provavelmente tinham problemas de saúde mais graves. O que nós vamos ter é uma crise de dimensões nunca antes vista. E que, com certeza, terão efeitos sobre a vida das pessoas até pior que o vírus, com efeitos cruéis de mortalidade. Porque fome, recessão e desempego também matam. Infelizmente, vejo fobia geral da sociedade”, afirma ele.
O mineiro acompanha, assim, o que defendem outros empresários brasileiros. O paranaense Júnior Dorski, dono de duas redes de restaurantes especializados em fast-food, disse, durante a semana, que o Brasil não pode parar em função da possibilidade de morrerem 6 mil ou 7 mil pessoas por causa da pandemia. “30 (milhões), 40 milhões de desempregados. É o que teremos em 2021 se não parar este lockdown (paralisação da economia) insano. Vão morrer 300 (mil),400 (mil), 500 mil pessoas nos próximos dois anos no Brasil em consequência do dano econômico causado pelo lockdown”, projetou ele ao escrever em uma rede social.
Já o paulista Roberto Justus, do setor de publicidade e comunicação, afirmou considerar “pouco estatisticamente” a morte de 15 mil pessoas e a contaminação de 300 mil se for levado em conta que o mundo tem 7 bilhões de pessoas. E citou muitas outras coisas fatais, incluindo acidentes automotivos, que seriam muito mais letais.
“Se nós fecharmos a economia por apenas 20 dias, no máximo 30, ok. Cortamos o contato e voltamos. Mas as crianças têm que voltar para a escola, as pessoas têm que voltar ao trabalho, a economia tem que rodar, senão o drama vai ser infinitamente maior”, afirmou.
O catarinense Luciano Hang, dono de rede varejista Hang, foi outro a defender o fim do isolamento e a reabertura de todo o comércio. Afinal, segundo ele, “o que virá depois da pandemia será muito pior”.
Roscoe concorda e alerta para que os políticos não tomem medidas que atrapalhem o Brasil. “O que temos de fazer neste momento é isolar os mais velhos e tentar tocar a vida o mais normal possível. Infelizmente, governadores, prefeitos, movidos pela demanda popular e da imprensa, estão tomando medidas insensatas, medidas que têm efeito nocivo na economia, que não sabemos calcular ou dimensionar. E que, depois do estrago feito, vai ser tarde demais. Sei que é uma posição que vai contra muito do que tenho ouvido aí. O isolamento é necessário, mas a crise só passa quando boa parte da população for contagiada. Uma parcela significativa da população tem de ser contagiada de fato. É assim que vai passar a crise do vírus. E 85% inclusive são assintomáticos. Vai aconteceu como eu, que tive uma tossezinha”, declara ele, que descobriu estar infectado com o novo coronavírus depois de integrar comitiva do governo brasileiro em visita aos EUA, no mês passado.
Mais tarde, respondendo a perguntas enviadas pelo Estado de Minas, por meio da assessoria de imprensa da Fiemg, o presidente adotou tom mais conciliador. Ele argumenta que 30 dias de inatividade serão mais que suficientes para dar um tombo na economia brasileira (queda de 8% do PIB) e, principalmente, mineira (queda em torno de 10%).
Por isso, defende que a indústria e o comércio tenham mais liberdade para funcionar, tomando, claro, medidas de segurança para não colocar em risco funcionários e fornecedores. “Estou muito preocupado com a paralisação total da sociedade. Precisamos entender que a nossa sociedade precisa de um mínimo para se alimentar. Há setores que não podem parar. A indústria do cal, por exemplo, precisa funcionar. Ou não teremos tratamento de água. E quem pode viver sem água? Como vamos tratar pacientes em hospitais sem água? (…) A indústria de fertilizante não pode parar. Ou daqui quatro meses não vamos conseguir colher o que plantarmos”, argumentou Roscoe.

Em Brasília

O discurso dos empresários vai em encontro ao que já externou várias vezes o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tachou quem defende as medidas de isolamento de alarmistas. “Não venham me culpar lá na frente pela quantidade de milhões e milhões de desempregados”, disse ele, em entrevista à TV Record.
No mesmo domingo à noite, o governo federal chegou a editar medida provisória permitindo a empresas cortar integralmente os salários por quatro meses e reduzir jornadas de trabalho em até 50%, com respectiva redução salarial. Porém, voltou atrás no dia seguinte, até pela repercussão negativa da iniciativa.
Muitos economistas defendem que o Estado ajude os empresários a pagar salários. Assim, a população teria dinheiro para continuar se mantendo não só agora, mas também quando a crise provocada pelo coronavírus passar.
Para Roscoe, o entendimento seria o melhor caminho: “A Fiemg recomenda que seja mantida a suspensão do contrato de trabalho, mas com a União arcando com um pedaço desse custo, para o trabalhador não ficar desamparado. Então, o Estado arca com uma parte, a empresa com outra e o próprio funcionário com outra. Sem isso, teremos desemprego em massa, talvez dobrar o número de desempregados em 30 dias. O que seria muito pior que a suspensão. Já estamos conversando e acho que vai ser bom para todo mundo.”

Fonte: Estado de Minas


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